Jackie observa tudo do alto de seu muro construído com plumas de um velho travesseiro e flocos de algodão vermelho, restos da cor do esmalte que cobria suas unhas.
O corpo pequeno faz casa à mente inquieta, cheia de pensamentos suaves e fortes e limpos e sujos e negros e vivos e mortos e bobos e sérios e belos e feios e egoistas e doces e ácidos e sinceros sempre - ou quase. Quando quase, cora a face!
Idéias fervilhantes fazem borbulhas aparecerem ao redor de suas orelhas todas a s vezes que tenta entender a loucura das pessoas.
Quanto mais conhece o mundo mais admira seu muro, que além de tudo é doce e a faz ver raios de luz rosa pink, ao som de um velho-novo rock-and-roll-and-up-and-jump-and-now.
Quer apaixonar-se pela paixão-em-si sem travesti-la de figura - dessas que andam por ai com braços moles e pernas duras e espinhas curvas e pescoços curtos e testas cavas e olhos vitreos.
Está cansada!
Da última vez apaixonou-se por um mameluco, meio-bom, meio-mau, como todo mundo, aliás. Não foi bom esse meu bem. Ganhou de presente um leque de contos nelsonrodrigueanos, bem cafajestes. Sentiu dor azeda. Desequilibrou-se. Caiu. Ralou o joelho direito e o ombro esquerdo, bem em cima da flor de cerejeira.
Para surpresa dela mesma, seu muro continua lá, apesar de todos os seus amigos observarem que é eminente um acidente fatal, pois não ousam crer que algodão seja duro como pedra, pedra sim - dizem eles - dá muro duro.
Disseca seus sentimentos, separando-os por cores e vestindo-os nos diversos dias da semana. Gosta mais dos verdes, que dão esperança e nascem as quartas, mas não desiste dos vermelhos, seduzida pela paixão, que geralmente chega como vendaval, aos sábados, exatamente a meia noite.
Nas sextas normalmente veste cor da revolta. Roxo! Brinca de ser punk mas logo lembra-se que é romântica incurável e pinta tudo de rosa chá.
Quando chove, as segundas, seus olhos mancham-lhe o rosto de azul acinzentado e saltam de suas pupilas meninas bailarinas.
Como fenix renasce e ama e odeia e dança e ri e chora e luta e surpreeende àqueles que não a crêem, num eterno ciclo confundido entre vida e sonho.
Por fim, dorme em paz!
Inspired by André Gonçalves e sua Jackie S.
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